A saída de Gaby Spanic de A Fazenda 17, anunciada oficialmente como expulsão pela Record, é um ponto final que, ironicamente, lança uma luz poderosa sobre um problema que a produção tem insistido em ignorar: a violência naturalizada no reality show.
O que vimos na noite de domingo (19) não foi um surto, mas um ato de protesto calculado. A atriz de A Usurpadora não bateu em Tamires Assis por raiva, mas sim para forçar uma reação que a emissora estava se recusando a ter. Gaby, em um discurso forte, listou o bullying e as agressões que sofreu no confinamento – e que Tamires também vinha sofrendo, como os ataques com água, cuspe e creme. Essas atitudes, embora pareçam “simples”, são formas inegáveis de agressão e violência que a produção, sob a batuta de Rodrigo Carelli, permitiu que corressem soltas, na clara aposta de que o “fogo no feno” turbinaria a audiência.
O Tapa que a Produção Queria Evitar
Gaby Spanic, uma figura internacional e claramente consciente do peso de suas ações, utilizou a única arma que restava para fazer a Record cumprir seu próprio regulamento: a agressão física.
Ao dar um tapa encenado no rosto de sua própria aliada, Tamires (que foi vestida de rosa e agiu em sincronia com o plano, mesmo sem ciência do que estaria previsto), a venezuelana criou um cenário onde a Record não podia mais se omitir. O toque do sino para desistência seria uma saída discreta, mas o tapa, mesmo que teatral e não intencional de machucar, é expulsão instantânea. A atitude de Gaby forçou a produção a agir de acordo com a regra mais básica do confinamento, expondo o padrão duplo: agressão física gera expulsão imediata, mas a agressão moral e psicológica – repetida diversas vezes com Tamires e outras peoas – é não apenas tolerada, mas aparentemente incentivada.
A nota de Carelli sobre a expulsão, embora formalmente correta, soa vazia. Ele penaliza a reação, mas ignora a série de violências que a precederam. A sensação que fica é de que Gaby Spanic, ao se autodenunciar, deu um xeque-mate no programa. Ela forçou a Record a cortar o mal pela raiz, provando que a produção só age quando a violência escala para o nível físico e inegável, e que ela mesma só poderia sair daquela situação insustentável através da expulsão.
A saída de Gaby Spanic não é apenas a perda de uma competidora; é um grito de alerta sobre a moralidade do entretenimento de reality show no Brasil. Agressão é agressão, seja com cuspe ou um tapa, e a audiência não merece ser alimentada com a baixaria que ignora solenemente a dignidade dos participantes. O tapa de Gaby não foi na Tamires; foi uma crítica direta na cara da direção de A Fazenda. Resta saber se eles terão a coragem de repensar o caminho que o programa está tomando.
Opinião do Autor
A atitude de Gaby foi um dos momentos mais políticos e potentes da história recente dos realities no Brasil. Ela se sacrificou para mandar uma mensagem: o público não é bobo e não aceita mais a violência como entretenimento. O risco para a imagem da Record é real e a produção precisa reavaliar urgentemente o que está permitindo em nome do ibope.