Nesta segunda-feira, a coluna 10 ou Desce analisa duas produções de streaming que buscam polemizar e instigar, mas com resultados opostos. Enquanto a Apple TV+ acerta com o suspense inteligente e ácido de Pluribus, o Prime Video desliza com a abordagem controversa da série Tremembé, que transforma a crônica criminal em um palco de curiosidades de gosto duvidoso.
Nota 10: Pluribus (Apple TV+)
A nota máxima da semana vai para a nova série da Apple TV+, Pluribus. A produção, que mistura ficção científica, humor ácido e suspense psicológico, é criada por Vince Gilligan (o gênio por trás de Breaking Bad e Better Call Saul) e se destaca pela sua premissa intrigante: a pessoa mais triste do mundo tem de salvar o mundo da felicidade.
Ambientada em um futuro pós-apocalíptico onde uma “nova ordem mundial” usa a tecnologia para forçar a felicidade e extinguir a individualidade, a série cativa o espectador com seu mistério crescente. As ações e o contexto desse novo mundo são revelados aos poucos, instigando uma curiosidade constante.
O grande trunfo é a protagonista, interpretada por Rhea Seehorn (a Kim Wexler de Better Call Saul). Ela rompe com o clichê do “bom mocinho”. Sua personagem é mal-humorada, debochada, extremamente crítica e vaidosa, resistindo à felicidade forçada. Essa complexidade moral é o motor da série e garante um deleite para quem busca narrativas que desafiam o espectador a se conectar com uma anti-heroína. Com a aclamação da crítica e o interesse do público, Pluribus já teve sua segunda temporada garantida.
Nota Zero (Desce): Tremembé (Prime Video)
A nota zero (Desce) vai para a série nacional Tremembé, do Prime Video. Entendemos que o impacto da produção requer um tempo maior para reflexão, e a conclusão é preocupante: a série falha na ética e no tom, transformando o True Crime em True Pop.
A produção, que se propõe a narrar a convivência de criminosos condenados por crimes bárbaros na prisão de Tremembé, com foco em nomes como Suzane Von Richthofen e Elize Matsunaga, comete erros primários de narrativa e cronologia. A série, por exemplo, sugere que Elize já estava no presídio no momento da chegada de Suzane, o que é historicamente impreciso, visto que seus crimes e prisões ocorreram em momentos diferentes (Suzane em 2002, Elize em 2012).
Mais grave que os erros factuais é a abordagem. A série opta por uma estética pop, com trilha sonora marcante e um clima que, segundo a crítica, se assemelha a um drama adolescente, romantizando a vida na prisão. O resultado é um foco desviado do crime e da dor das vítimas para as curiosidades banais e o “cotidiano” dos criminosos (como o debate nas redes sociais sobre o uso de uma calcinha por um dos irmãos Cravinhos, como retratado na série).
Ao focar no melodrama das relações e hierarquias internas, a produção acaba gerando uma empatia forçada pelos criminosos, culminando em um fenômeno tóxico: o crescimento vertiginoso das redes sociais de ex-detentos e o aumento do interesse midiático em entrevistas e podcasts com essas pessoas. Tremembé é um exemplo de como o True Crime brasileiro pode, inadvertidamente, glamourizar a violência, transformando criminosos em “celebridades” e minimizando a seriedade e o peso dos crimes cometidos.
Você assistiu a Pluribus ou Tremembé? Qual dessas produções te instigou mais a reflexão?
