O YouTube TV, serviço de TV por assinatura via internet do Google, alcançou a marca de mais de 8 milhões de assinantes nos Estados Unidos, tornando-se uma das quatro maiores operadoras do país, atrás apenas de Comcast, Charter e DirecTV.
Em apenas oito anos de existência, a plataforma se consolidou como uma alternativa à TV tradicional, atraindo principalmente o público mais jovem com recursos como gravação ilimitada, multiview, interface intuitiva baseada em algoritmos e uma experiência de navegação livre de “zapeadas” tradicionais.
O crescimento acelerado do YouTube TV ocorre em um momento em que o modelo clássico de TV por assinatura vive uma queda contínua. Dados recentes mostram que o serviço já tem o dobro de audiência entre jovens de 25 a 49 anos, em comparação com o cabo convencional. Entre os consumidores mais velhos, a TV tradicional ainda lidera, mas a diferença vem diminuindo gradualmente.
Apesar do sucesso com o público, a postura do YouTube TV no mercado publicitário tem incomodado programadores e parceiros comerciais. Ao contrário das operadoras tradicionais, a plataforma não compartilha os espaços de publicidade que não consegue vender. Em vez de repassar esse tempo de volta para os canais, prática comum para gerar receita com campanhas nacionais, o YouTube TV simplesmente exibe interlúdios relaxantes com imagens de natureza e música ambiente — o famoso “Enjoy the zen”. Isso tem gerado frustração entre veículos e anunciantes, que veem ali espaços desperdiçados de alto valor, especialmente em programações de nicho com público qualificado, como a CNBC.
Esse modelo evidencia uma diferença fundamental de mentalidade. Enquanto as operadoras de cabo dependem diretamente da venda de espaço publicitário, o YouTube TV integra a estratégia maior do Google, priorizando controle de dados e fortalecimento de seu ecossistema digital. A ausência de acordos tradicionais e a centralização da monetização nas mãos do Google são vistas como barreiras por executivos do setor, que apontam a falta de colaboração como um sinal de descompasso com as práticas do mercado televisivo.
Outro ponto de atenção é que, embora ainda esteja em expansão, o crescimento do YouTube TV já começa a desacelerar. O serviço aumentou seu preço mensal para quase US$ 83 — uma alta de 28% em dois anos — o que pode afastar consumidores mais sensíveis a custo. Além disso, o boom registrado em 2023 com a inclusão do pacote da NFL (Sunday Ticket) foi interpretado como um “pico antecipado”, e não como uma tendência sustentável.
Internamente, há quem veja o YouTube TV mais como uma alavanca estratégica do Google do que como um negócio voltado ao lucro direto. Isso explicaria a rigidez nas negociações com programadores e a pouca preocupação em maximizar a ocupação do inventário publicitário. Ainda assim, a plataforma segue como um dos principais players da nova era da televisão — mesmo que seu modelo esteja redesenhando as regras do jogo de forma que muitos ainda relutam em aceitar.