Nesta sexta-feira (19/01), “Terra e Paixão” chegou ao último capítulo. A novela de Walcyr Carrasco e Thelma Guedes termina com a missão cumprida. Os autores escreveram a trama para alavancar a audiência da faixa mais nobre da TV brasileira. Usaram todos os subterfúgios e clichês folhetinescos com o objetivo de prender a atenção do telespectador.
O receituário funcionou no Kantar Ibope. A novela das nove conseguiu romper a almejada barreira dos 30 pontos. A meta atual da produção do horário é ficar entre 29 a 34 pontos. Apesar disso, como analisado nos primeiros capítulos, o roteiro frágil não elevou a qualidade da teledramaturgia oferecida ao telespectador.
A história rasa entre Aline (Barbara Reis) e Antonio La Selva (Tony Ramos) não engrenou. Como abordado lá atrás, o casal Aline e Caio (Cauã Reymond) também não vingou. Diante de tais fatos, os autores remontaram o roteiro em tempo real.
Em muitos momentos, Anely, interpretada pela atriz popular Tatá Werneck, apareceu mais que a protagonista. Luigi (Rainer Cadete), idem. A luta pela água na “Terra Vermelha” virou uma guerra por diamantes que, depois, não se concretizou. Alarme falso. O clima bélico e de violência que dominou os primeiros momentos cedeu espaço a uma trama mais leve e ares nonsenses, típicos de Carrasco.
Diante dos problemas de saúde de Walcyr Carrasco e o texto pobre dos primeiros capítulos (“quem será o meu sucessor”), Thelma Guedes foi chamada para sustentar a obra. Missão dada. Missão cumprida. A autora respeitou os diálogos simples com personagens não multifacetados, caraterísticas das obras do autor que atingem a grande massa.
A seguir, o balanço com os pontos positivos e negativos.
PONTOS POSITIVOS
Amaury Lorenzo (Ramiro): o ator foi o principal nome de “Terra e Paixão”. O então “jagunço” Ramiro galgou espaço na trama com a resposta positiva do público, diante de seu ótimo desempenho no vídeo. De vilão passou a um personagem com ar ingênuo. O amor transforma as pessoas. Lição de “Amor à Vida” repetida em “Terra e Paixão”. Conquistou uma boa parceria com Diego Martins que viveu Kelvinho. A dupla já entrou na história da teledramaturgia brasileira com o avanço da temática do universo LGBTQIA+ em telenovelas. No horário mais nobre da TV brasileira, o casamento homoafetivo em pleno último capítulo simboliza tal visão. Os beijos doces entre os personagens também marcam a percepção.
Tony Ramos (Antonio La Selva) e Gloria Pires (Irene): mesmo com dois personagens que estão longe de figurarem entre os melhores da trajetória artística de décadas, Tony Ramos e Gloria Pires simbolizam a teledramaturgia brasileira. A dupla liderou o elenco da novela das nove. A experiência e a intimidade criada com o público sempre devem ser valorizadas.
Rainer Cadete (Luigi): o ator personifica o espírito das obras de Walcyr Carrasco. Desta vez, incorporou um “italiano malandro” que aplicava golpes para enriquecer. Conquistou a simpatia do telespectador pelo carisma do personagem.
Participações especiais: com o esticamento da obra para 222 capítulos, alguns atores e atrizes entraram em “Terra e Paixão” para oxigenar a trama. Eliane Giardini transbordou a sua experiência para interpretar a vilã Agatha. Claudia Raia foi outra atriz que brilhou em sua breve passagem na trama, como a mãe tresloucada de Luigi. Rafael Vitti desenvolveu mais um bom trabalho ao viver o bom moço Hélio. Daniel Rocha é outro nome que se entrosou imediatamente com o elenco ao incorporar o “agroboy” Natercinho.
Inez Viana (Angelina): a veterana atriz ganhou uma rara oportunidade após ganhar um papel de destaque na novela das nove. Conquistou o carinho do público ao viver a governante dos La Selva. O desfecho da personagem foi um dos grandes acertos da trama.
Leandro Lima (Marino): o ator ocupou a vaga de “galã” de “Terra e Paixão”. Desenvolveu, mais uma vez, um bom trabalho, após a exitosa passagem em Pantanal. Formou um bom casal com Lucinda, vivida por Debora Falabella. Mesmo assim, é válido lembrar que o delegado Marino, corrupto na primeira fase da trama, não sofreu punição por seus crimes.
PONTOS NEGATIVOS
Cauã Reymond (Caio): o ator viveu um dos seus piores momentos de sua carreira em “Terra e Paixão”. Reymond não conseguiu, do primeiro ao último capítulo, transparecer verdade no vídeo com o personagem Caio. Não se desconstruiu para incorporar o produtor rural. O sotaque fortaleceu a artificialidade na interpretação. Erro de escalação.
Aline (Barbara Reis): a então protagonista perdeu espaço durante a trama com as reviravoltas no roteiro para elevar os índices de audiência. A então professora de matemática transformou-se, de uma hora para outra, em contadora. As dívidas foram esquecidas. O sonho de produtora rural passou para milionária com extração de diamantes. Perdeu o marido assassinado. Logo em seguida, apaixonou-se por Daniel. Imediatamente após o falecimento de seu novo amor, declarou estar apaixonada por Caio. Tudo isso provocou um afastamento do público que não embarcou na história.
Mara (Renata Gaspar) e Menah (Camilla Damião): o casal lésbico ficou ofuscado com o sucesso de Ramiro e Kelvinho. Diante disso, as duas personagens ficaram relegadas ao terceiro plano na trama. Um dos efeitos do roteiro original remexido.
Odilon (Jonathan Azevedo): personagem avulso que ficou sem função alguma durante a novela “Terra e Paixão”.
Gil Coelho (Franco): outro ator subaproveitado em Terra e Paixão. O personagem teve o romance bruscamente interrompido com uma indígena.
Show de Michel Teló: o desfecho de “Terra e Paixão” causou um ruído junto ao telespectador. Estranhamente, Ana Castela, Chitãozinho e Xororó não cantaram a música de abertura da novela no show que marcou o encerramento da produção. Michel Teló substituiu o trio. Além disso, nesse momento, apareceram, livres, leves e soltos, Ramiro e Tadeu (Claudio Gabriel) que deveriam ter permanecido presos.
Fabio Maksymczuk