O jornalista Pedro Bial é o convidado de Bárbara Paz no “A Arte do Encontro” desta quarta, dia 8, às 21h30, no Canal Brasil. No comando do “Conversa com Bial”, na Globo, ele discorre sobre morte, religião e amor, enquanto lê trechos de obras de Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes e August Strindberg.
Leia abaixo:
Morte – Eu fui apresentado a ela quando meu pai morreu, eu era muito moleque, me senti muito traído, abandonado, enganado. Vou falar de algo mais recente, comigo, tive uma coisa no coração, fiz uma cirurgia, e essa dama indesejada da gente apareceu na minha frente, e eu depois de ter muito medo e depois desse medo ser tão grande que se revelou inútil — porque o medo quando ocupa todos os espaços não serve mais para nada — me deu pena, me deu um dó de ir embora tão cedo, a festa está boa, e eu nem aprendi a dançar ainda. Mas desde então eu estou pensando muito nisso, escrevendo sobre isso, fui provocado pelo Drauzio (Varella, médico) que escrevesse sobre a experiência.
Fé – Eu não acredito em porra nenhuma, aí não posso dizer que tenho fé. E isso é mal de profissão. Eu não conheço nenhum jornalista que acredita em alguma coisa, pelo menos nenhum bom jornalista, e eu me considero um jornalista razoável. Então eu não posso dizer que tenho fé em nada, agora eu tenho muito, muito claro um deslumbramento diante de tudo, eu não cesso de me espantar, de me assombrar, de acordar “Caramba, tô vivo, olha a árvore”, sou besta diante do fato de estar vivo, sentir dor, sentir prazer, e isso gera um sentimento de gratidão. E aí eu acho que é o mais próximo da fé, essa coisa de estar grato, porque se eu estou grato por estar vivo, eu deveria estar grato a alguém ou algo, né? É isso que você pode chamar de Deus, mas que eu não chamo.
Passagem do Tempo – Eu sempre fui muito ansioso, isso está um pouquinho melhor, estou um pouquinho mais calmo, neste sentido está bom, olho pra trás sou uma pessoa melhor de quando era jovem, não está ruim não. Queria que demorasse bastante para passar. Minha vida inteira eu tive uma atitude diante das coisas, dos projetos, das coisas que sonhava, “não, tudo bem, se não for pra agora, depois, mais tarde, o que são 10 anos, 10 anos não são nada?”, e realmente 10 anos podem não ser muita coisa, mas 20 já são alguma coisa. Eu estou começando a perceber que certas coisas é melhor não esperar mais 10 anos, não, é tomar providências logo.
Amor – É o que cola os cacos da vida, né? É o que dá sentido, empresta sentido à existência, é o que nos difere dos vermes, também não quero presumir que os vermes não se movam por amor, né, esse negócio de achar que sentimentos muito nobres como amor, o altruísmo, são só exclusividade humana, é um negócio desumano (…), é fácil eu te responder sobre o amor, o amor que tenho pela Maria, pela minha mulher, pelos meus filhos, mas isso além de um pouco íntimo, é clichê também. O amor que é revolucionário e que nos desafia é uma atitude de pensar num projeto da espécie, um projeto humano, acho que as coisas vêm melhorando, mas esse amor por quem não faz parte da sua família (…).